Razão pela escolha do meu local- 1º fase do projeto BLIND DATE

09-10-2013 20:55

Quando iniciei este projeto não fazia ideia do que haveria de fazer. O stress do tempo começou a deteriorizar a minha tranquilidade. Apenas sentia incertezas acompanhadas por dúvidas constantes.

No primeiro dia, depois da primeira aula com os professores, ainda mais confusa me tornei.

Estava escrava do tempo novamente... Sentia-me igual a todos os outros seres racionais que, fundamentalmente na actualidade, permanecem numa imensa pressão de horários, numa correria constante.

Contudo, ao deambular por Lisboa, o meu olhar tornou-se mais atento, deparei-me aos poucos com a evolução do meu íntimo, da minha capacidade de ver mais além do que existe realmente.

A minha primeira experiência desta sensação, de conhecer um universo diferente, notou-se quando menos esperava. Ao caminhar para o Cais do Sodré, tive conhecimento de um Terminal Fluvial. Este local despertou-me logo um determinado interesse.

Quando me aproximei melhor do local onde os barcos são descarregados e observei a azáfama e de seguida a plenitude da calma, senti uma determinada inquietude. Como se estes dois sentimentos diferentes me provocassem ansia. Porém, não consegui entender se eram mesmo os dois sentidos diferentes deste local que simultâneamente me despertavam atenção, ou era apenas um deles individualmente. Decidi permanecer naquele momento no local, chovia e o vento agitado não parava de dançar e assobiar, como se algo também o inquieta-se. E foi neste momento que dei por mim a observar o rio perante a plenitude da calma. Deixei para trás o meu excesso de energia e stress, tentando apenas sentir aquele instante.

Comecei a desenhar. Iniciando um processo de evolução constante, passando da simples retratação do local para a reflexão do mesmo.

No entanto, apesar de sentir que este era o meu momento, ainda me faltava tanto por descobrir a cerca daquele ínfimo espaço de tempo...

No desenrolar dos dias que se seguiram fui descobrindo cada vez mais de mim naquele espaço. Derrepente o Terminal Fluvial do Cais do Sodré passou de um simples espaço fantástico estéticamente para uma porta de entrada para outro mundo, outro universo imaginário onde apenas eu o podia desvendar, procurando outra realidade e sentindo-me aos poucos cada vez mais livre.

Apercebi-me assim de que fui ficando com necessidade de possuir diariamente aquele instante, pensando que no início para o alcançar teria de lá ir obrigatoriamente. Porém, ao desenvolver cada vez mais a minha alma, acabei por constatar que não era indespensável estar no local para regressar aquele "instante decisivo", visto que a contemplação e revelação de um novo ser acompanha-me para todo o lado, tendo se transformado num espaço aberto na minha mente onde o imaginário e a irrealidade tinham cada vez mais intensidade.