Exposição “Livro de Horas: o imaginário da devoção privada” | Biblioteca Nacional de Portugal
A exposição “Livro de Horas: o imaginário da devoção privada” que se encontrou entre os dias 14 e 15 de Fevereiro na Sala de Exposições no piso 3 da Biblioteca Nacional de Portugal, apresenta uma grande variedade de Livros de Horas dos acervos da Biblioteca Nacional Portuguesa e da Biblioteca Pública de Évora.
Livro de Horas é um tipo de manuscrito que integra diversas iluminuras, pinturas decorativas e representações imagéticas de modo a referir a devoção cristã, normalmente datados da Idade Média.
No século XIII o termo iluminura atribuía-se sobretudo aos objectos em que se utilizasse douração. Deste modo, um manuscrito iluminado seria decorado com ouro ou prata. Estes objectos possuem também diversos textos, orações e salmos (que são os maiores livros de toda a Bíblia, ainda hoje utilizados como orações no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo).
Neste sentido, os Livros de Horas serviam para os seus leitores os utilizarem em determinados horários do dia, sendo considerados riquíssimos objectos de arte ilustrados.
Foi no inicio do século XVI que se verificou uma nova atenção e popularidade destes livros, confirmando-se uma nova motivação e uma rápida evolução a nível criativo, inventando-se assim novas soluções face a imagem e a decoração.
No que concerne a exposição os livros presentes foram concebidos durante os séculos XIV e XV. Estes livros demonstram o gosto e poder económico dos seu possessores, através da escolha dos textos e iluminuras e também pela ostentação decorativa presente. Neste seguimento, é possível através de um único Livro de Horas prever o prestígio social de acordo com as precisões artísticas e espirituais do utilizador em questão. Ao combinar as recordações do quotidiano mediaval com evocações do mundo natural e iluminuras religiosas o Livro de Horas transporta-nos para um passado e dá-nos a oportunidade de enriquecer a nível de conhecimento artístico.
Na exposição foram demonstrados vinte e quatro Livros de Horas e exemplares impressos e organizados através das suas tipologias de livro. Neste sentido, estavam presentes variadíssimas obras primas desde calendários, perícopes evangélicas, Horas da Cruz, Horas do Espírito Santo, Horas da Piedade e do Sacramento, Horas da Virgem, orações, salmos penitenciais a, finalmente, Ofício dos Defuntos. No espaço que envolve estes objectos existem diversos cartazes, que na minha opinião poderiam estar melhor elaborados, onde se encontra evidente a importância dos pigmentos de cor utilizados nas diversas iluminuras assim como os diferentes significados que cada cor tem e como deve ser utilizada. A maioria dos livros foram escritos em latim e integram um calendário no início, que agenda as mais importantes festas do ano litúrgico, de culto universal e regionais. Seguidamente, as perícopes evangélicas, que se destinam principalmente à reprodução dos evangelistas, tinham o objectivo de intensificar o conteúdo do texto. Posteriormente, encontra-se as Horas da Cruz, do Sacramento, do Espírito Santo, da Piedade e, finalmente, da Virgem, todas possuem características diferentes tanto ao nível do texto como da imagem. Mais à frente, estão os sufrágios (que integram pequenas orações) e os Salmos (explicados anteriormente). Finalmente, o livro acaba com o Ofício dos Defuntos, bastante variados iconograficamente.
Na exposição em geral o livro que mais me atraiu e que mais curiosidade e admiração me despertou tinha como título na legenda da exposição “Livro de Horas Anunciação”. Tem-se conhecimento que este objecto de pergaminho, tem origem em Paris tendo sido construído entre 1420 a 1430.
A minha atracção por este objecto em particular foi motivada não só pelas cores e tipo de letra gótica características dos Livros de Horas mas também, particularmente, pela iluminura demonstrada, onde é visível o imenso trabalho e esforço abdicado por um objecto de tão ínfimas dimensões. Desde as personagens em movimento excelentemente representadas ao padrão que envolve a figura, todos os elementos me transmitem fascinação, todos os pormenores foram trabalhados delicadamente e afincadamente e considero que é isso que me provoca um grande espanto pela qualidade de trabalho concebido no passado sem qualquer tecnologia ou suporte, tendo como quase único e principal instrumento a mão humana.
Em suma, considero que esta visita ao piso três da Biblioteca Nacional de Portugal foi bastante benéfica para a aprendizagem e evolução do meu conhecimento, tendo sido uma mais valia tanto ao nível da compreensão da evolução do livro em si, como no que concerne o avanço da utilização da grelha gráfica.
Promenor da Exposição
"Livro de Horas Anunciação", Paris | 1420-1430 | pergaminho | Calendário segundo o uso de Paris | Horas da Virgem segundo o uso de Roma
Origem: Livraria de D. Francisco de Melo Manuel