Dossier de Exploração- 3ª Fase Tangencia(i)s- O Terraço
O Terraço- Síntese das ideias e memórias presentes no Caderno de Escrita
Neste local exterior da minha casa observo a presença da natureza e recordo outros espaços onde vivi anteriormente.
Neste sentido, sou capaz de fazer uma comparação entre os diversos lugares experienciados no passado.
Relativamente a Sintra, tinha a possibilidade de contemplar um imenso jardim, em que no verão ao colocar-me na varanda observava as pessoas que frequentavam a piscina e as diversas relações existentes.
Por sua vez, na vivenda do Porto, apenas era capaz de observar carros e pessoas. Reparando desde cedo, nas sensações e sentimentos distintos e na pressa constante do quotidiano dos adultos.
Contudo, é ao voltar a Carcavelos que estas duas dimensões se unem, neste momento compreendo que consigo observar não só as vivências diferentes das pessoas, como também as suas relações e a beleza do meio natural que me envolve.
Neste seguimento, ao observar o espaço físico do terraço analiso a existência de algumas plantas e do vidro presente no seu limite esquerdo, que visa evitar acidentes como a caída para a entrada da garagem que se encontra sob o terraço.
Consecutivamente, relembro as histórias que em pequena eram contadas a mim e aos meus irmãos, em que as personagens principais eram sempre ou Papuço (cão do meu pai) que urinava na praia nas toalhas de desconhecidos, que rou bava a carne que iria ser cozinhada e comia os ovos do galinheiro da minha avó. Ou por sua vez, Pingo (cão da minha mãe) que saltava o portão a meio da noite e voltava de madrugada envolvido por uma intensa fragrância marítima.
Adorava observar a alegria das expressões destes narradores ao contar as aventuras destes cães, ambos perspicazes e bastante inteligentes.
Contudo, era através das histórias de Pingo que se evidenciava algo mais para além da felicidade e nostalgia, algo que se integrava numa imensa tristeza e desgosto, devido ao facto de este cão ter falecido envenenado devido à sua forte personalidade.
Foi por este motivo que quando tivemos oportunidade e nos mudamos para esta casa, decidimos ter um cão de água idêntico a Pingo.
Contudo, este cão não permaneceu muito tempo neste local, algo motivado pelos hediondos vizinhos (que devido ao seu ladrar o agrediram e ameaçaram) e pelo seu desequilíbrio emocional(fugindo constantemente da voz masculina e partindo duas patas ao atirar-se pelo lado esquerdo deste espaço, quando ainda não possuía vidro algum).
Todos estes acontecimentos suscitaram não só a colocação do vidro atual, como também a decisão da minha mãe relativamente ao regresso deste animal ao seu lugar de origem, temendo que as suas memórias traumáticas do final de vida de Pingo se repetissem em Ilheu.
Ao reviver esta minha memória mais atentamente, inicio um processo de autoanálise. Apercebo-me de que apenas alguns seres humanos já maturos se comportam devidamente, e compreendo a superioridade do homem no que concerne à sua capacidade de racionalizar e desenvolver o seu pensamento, a sua individualidade. Porém, também compreendo que apenas uma ínfima parte da população utiliza corretamente esta capacidade, tornando-se em seres mais cegos, mudos e surdos que os próprios seres possuidores de tamanhas deficiências.
Abandonando tamanhas memórias e reflexões, regresso a este espaço físico e observo a mãe-natureza que o rodeia.
Relembro a minha infância quando persistia nas guias no inicio no Porto, mudando mais tarde para Oeiras.
Relembro todos os acampamentos , aventuras e dificuldades que surgiam. Percebo com esta recordação, que foi através das guias que a minha admiração pela natureza e o gosto pela sua contemplação se desenvolveu. Apesar do meu abandono pelas guias (motivado pela necessidade de concentração na ginástica), continua presente numa parte do que sou a influência deste fragmento da minha vida, como a forma de pensar, observar e agir. Contudo todas estas alterações foram principalmente reveladas no presente, ao regressar a casa e observar que tudo mudou.