Analogia do meu não-lugar com o filme "Lisbon Story"- 2ª fase do projeto BLIND DATE

13-10-2013 16:50

Analogia do meu não-lugar com o filme “Lisbon Story”

 

Quando observo o Terminal Fluvial Cais do Sodré relembro não só a beleza deste espaço inerente a esta cidade como também o filme “Lisbon Story” criado por Wim Wenders, com a co-produção entre a Madragoa Filmes de Paulo Branco e Road Movies de Wenders.  Onde existem referências ao grupo musical Madredeus e também ao realizador Manoel de Oliveira.

Neste filme está presente a narração de uma personagem alemã, que chega a Lisboa pela primeira vez e não a observa do modo como um simples turista costuma ver, mas sim de uma forma própria e íntima do seu ser. Esta personagem trata-se de um sonoplasta que procura em Lisboa os seus “fantasmas da história” onde estão presentes os sons mais distantes e próximos que o ser humano poderá alcançar.

É neste filme que quando a interrogação “Quem, senão o solitário, se disporia a perder-se a si mesmo e a penetrar a vida da cidade? ” aparece, que o relaciono e identifico com o meu espaço, e com a intensidade que o vivo.. eu e o meu companheiro. Ambos ficamos sós naquele espaço, possuindo uma solidão fantástica, que não é completa ,sendo que ao invadirmos aquele não-lugar através da nossa mente, este ganha alma constituída por sentimentos, histórias, memórias, fantasias e nostalgias. E é neste sentido que a tal solidão é acompanhada não só pelos diversos sons do vento, água, barcos e agitação, como também pelo majestoso rio Tejo. Este rio que é identificado neste filme como “a única testemunha das nossas vidas.” Somos deste modo,  os solitários que nos dispomos a abandonar o nosso ser ,que presencia os outros lugares, e que se envolve e mergulha neste espaço onde o rio impõe a sua presença.

 Em “Lisbon Story” existe uma preocupação intensa com a procura dos sons, existindo a constante interrogação ”Qual o som da ausência?” pelo sonoplasta que irá procura-lo pela cidade. Contudo, este som da ausência invade o meu não-lugar, envolvendo-o através da partida dos barcos, quando apenas fico eu e José neste espaço. Quando o rio ganha uma nova vida, uma diferente e enriquecedora alma... Onde os “fantasmas do momento” referidos no filme são evidentes, dando-nos a oportunidade de viajar para uma outra realidade. Esta, apenas naquele local é a mesma da do pescador, pois quando o abandono, não só fisicamente como mentalmente, o rio Tejo transforma-se num mundo diferente, igual ao atual. E é assim, que quando o pescador José refere “O Mar para mim, é como Lisboa é para ti.” que  compreendo o modo como me transformo ao viver este espaço. É neste sentido que a frase só obtém sentido quando necessito de me afastar do Terminal devido ao regresso das preocupações e da consciência do tempo que deixa de ser infinito, sendo que quando permaneço neste local o mar, nomeadamente o rio passa a ser o meu novo mundo que se encontra por descobrir.