A minha viagem ao desconhecido e a uma nova paixão que me pertence... 1ª fase do projeto BLIND DATE

09-10-2013 21:32

Neste momento permaneco no meu suposto conforto, contudo o que sinto é uma enorme inquietação no meu íntimo.

Relembro o rio, o local onde tudo acontece. O espaço onde as minhas memórias não possuem fim, onde a simples ondulação  me conta diversas histórias, criaturas de diferentes formas e cores, mundos libertos do fernezim e do ruído que nos agride todos os dias...

É neste espaço que a criação de um novo mundo faz sentido. Ao observar a tranquilidade daquele local, sem a azáfama constante, dou por mim a refletir sobre a agressão que a nossa sociedade imprime ao meio natural. Este pensamento torna-se evidente quando observo perplexa as formigas que são cuspidas pelo barco, autómatos, sem vontade própria, sem possibilidade de parar, de interrogar, de observar, autómatos, máquinas duma engrenagem que não tem fim. Estes seres frenéticos irritam-me, sinto-me agredida por eles, pela sua pressão , pela sua ansiedade. Neste momento sinto-me estupefacta perante o domínio avassalador do tempo, da necessidade de corresponder às expectativas dos outros, às responsabilidades que impomos a nós próprios e que nos são impostas, às imagens forçadas a que queremos corresponder. Contudo, passadas estas imagens que me torturam, eis que surge o instante do encontro com o meu íntimo, a paragem em que a tranquilidade me inunda, e em que me sinto liberta dessas amarras que me escravizam. Sinto-me mais autentica, mais distante daquelas formigas e mais próxima de um espaço que me apazigua. Este é o momento em que me recrio, e que imagino outras realidades tão diferentes, sem automatismos e, finalmente sinto a leveza, a leveza do ser.

Neste instante interrogo-me: evoluimos ao nivél da tecnologia mas em termos da humanidade existem tantas perdas, diárias, constantes... Por momentos oiço a voz de Miguel Torga, grande poeta que sintetiza no seu poema "Viagem", de forma sublime a minha viagem à alma deste local, ao desvendar de um novo eu e de uma nova paixão que me constitui...

 

" É esta fúria de loucura mansa

 Que tudo alcança

 Sem alcançar.

 Que vai de céu em céu,

 De mar em mar

 Até nunca chegar.

 E esta tentação de me encontrar

 Mais Rico de amargura 

 Nas pausas da ventura

 De me procurar..."