A evolução do meu trabalho- 2ª fase do projeto BLIND DATE- Dossier de Exploração
Neste projeto, Viagem a Lisboa, escolhi explorar o Terminal Fluvial de Cais do Sodré.
Na primeira fase do trabalho a minha descoberta pelo espaço envolveu uma vertente mais íntima, onde me preocupei mais com a relação entre este local com o meu corpo e com a minha alma... Tentei, neste sentido, revelar uma outra realidade através da contemplação deste local, observando e sentindo o Rio que se impõe a tudo o resto que o rodei, transmitindo-me uma tranquilidade sem fim, um sentimento puro, uma paixão.. Sentia que era no Terminal e na sua exploração mais profunda, que as responsabilidades e preocupações eram abandonadas pela extrema beleza e grandiosidade que é inerente a este espaço.
Deste modo, é neste espaço que começo a absorver diversas memórias distantes e histórias imaginadas por mim, criando distintas criaturas através da ondulação do rio e idealizando também outro mundo, liberto da constante azáfama e ruído que nos agride diariamente.
Consecutivamente, é também neste local que me apercebo da agressão atual que a nossa sociedade imprime ao meio que a rodeia. Este pensamento caracteriza-se e intensifica-se quando observo as pessoas agitadas numa constante corrida contra o tempo, que por sua vez, as comparo a formigas frenéticas, seres autómatos, que são cuspidos pelo barco. Não param um simples instante para observar a beleza que os rodeia, não se interrogam, simplesmente se conformam, parecendo máquinas controladas por algo que lhes é superior.
Demonstro neste sentido, a irritação que estas me provocam, sendo que me sinto agredida pela sua ansiedade e pressão. Parece que quando chegam a este espaço o transformam, sendo motivo do fim do meu instante de tranquilidade e contemplação de outra realidade.
Posteriormente, na segunda fase deste projeto, decidi começar a investigar o espaço através de vivências e experiências de outras pessoas que o frequentam, tentando responder à minha interrogação constante, em que me questiono se serei a única a viver este local com tanta intensidade, sentindo diversas sensações através do conhecimento do mesmo e de todos os seus sons e movimentos que se envolvem e dançam , transformando-me em espetadora de um grandioso espetáculo.
Consecutivamente, decidi dialogar com pessoas distintas, iniciando por comunicar com o pescador José Matos. Este homem transmite-me uma imensa perplexidade e espanto, narrando-me as suas histórias e revelando que aquele é o seu lugar, que sem o Mar não é “ninguém neste Mundo”. Contudo, também me transmite inquietude ao referir que a agitação inerente à chegada dos barcos lhe é indiferente, só querendo saber de si e do seu bem-estar.
Posteriormente, elegi uma senhora que esperava pelo barco para também comunicar e conhecer a sua visão do local. Esta revela-me que a principal razão pela sua utilização do Terminal Fluvial, é o “jeito”, sendo que é o transporte mais económico que pode apanhar para cumprir o seu dia a dia. Esta personagem, também me transmite um certo desassossego quando refere que apesar da confusão e stress constante dos seres que frequentam estes transportes, esta não se sente agitada, referindo que “stress é só no trabalho”, necessitando de manter a tranquilidade “para sobreviver ao dia a dia.”
Neste sentido, para além do meu enriquecimento pelo conhecimento deste local através de diferentes perspetivas bastante diferentes da minha do mesmo, apercebo-me ao ler determinadas teorias de Marc Augé que se trata de um Não-Lugar.
Deste modo, esta segunda fase não se trata apenas da investigação de outras experiências deste local, mas também se constitui por uma exploração de diferentes pensamentos e noções da relação de um determinado espaço com as pessoas que o rodeiam. Contudo, é também nesta fase que tenho uma maior atenção não só à descoberta do mesmo através de memórias, histórias, introspeção do eu e conhecimento de outras formas de o viver, como também pesquiso e investigo factos históricos que lhe são inerentes . É deste modo, que necessitei de visitar diversos arquivos e bibliotecas, procurando informação sobre o Terminal Fluvial de Cais do Sodré, tendo me sido fornecido diversas fotografias antigas do local, informação e arquivos inerentes a este. Porém, é também neste fase que a cultura portuguesa e não só passa a ter uma determinada relevância no meu trabalho, onde relaciono diversos poemas, um filme e uma música que constitui este filme, com o meu projeto.